sábado, 23 de julho de 2011

VOLTA AO BRASIL II


Ou seria volta ao Brasil III ?


Na verdade, nesta minha segunda grande batalha para voltar ao meu país, houve viagens esporádicas pra fora. Cheguei em julho de 2008 em Salvador com bilhete só de ida. Recebi na chegada uma fitinha do Bonfim no punho esquerdo, o do coração. Em meados de outubro de 2008 entretanto voltei para Europa à trabalho e para trazer algumas coisas. Voltei em janeiro de 2009 com o Prêmio do Interações Estéticas nas costas. Em fevereiro de 2010 fiquei 20 dias na Suécia trabalhando. Andava sob temperaturas de -14 graus levando uma garrafinha de uísque no bolso da camisa, como se fosse uma espécie de cartão de crédito (era o meu combustível). Aqui já havia descoberto o princípio de um pequeno grande amor, mas ainda não sabia. Quando soube em fevereiro de 2011 já era tarde, fui muito lento, dancei. As coisas nos trópicos tem outra velocidade. Um pouco antes, a catástrofe serrana me jogou numa das maiores crises sócio-econômica-pessoais da minha vida. Estava no habitat natural dos que duvidam de si mesmo; o que eles chamam nos EUA de “deep shit”. Fui obrigado então a voltar pra Escandinávia. Pensei que dessa vez havia definitivamente perdido a batalha. Planejei ficar lá até saber o que fazer, o que pelos meus cálculos não seria antes da chegada do inverno europeu em dezembro. O inverno, nesta altura dos acontecimentos, exerce sobre mim o efeito de repulsão dos campos magnéticos. Dia 14 de junho de 2011 fiquei sabendo que ganhei o “Novos Autores Fluminenses” da Secretaria de Estado de Cultura-RJ. Aí, voltei. Vejam só na foto o meu ar de alívio flutuando sobre a Baia de Guanabara.
Por mais que aqui estejamos, nosso olhar vem sempre de outro lugar, outro tempo.
E este olhar muda a paisagem ...




Quero ficar no Brasil. Por que não consigo?
Existe um duro provérbio-conselho inglês que diz:
”You give people a second chance, never a third”
Dê as pessoas uma segunda chance, nunca uma terceira.
Aqui estou eu na minha segunda chance de volta ao Brasil.

O Brasil que meu olhar encontrou na primeira viagem era mais bonito e sonhador. Quase uma festa. Estávamos embevecidos pelas nossas conquistas em todos os campos, inclusive no campo cultural, e esquecemos de sedimentá-las; questionando e aprimorando através da autocrítica. A autoindulgência ainda não era considerado crime.

Amigos me dizem que eu devo mergulhar na psiquê nacional e ficar calado. “Quem fala muito dá bom-dia à cavalo”, diz um deles. Mas aí eu retruco com a historinha do Sapo e do Escorpião:

O sapo estava para atravessar o rio quando um escorpião aparece e pergunta: “Você não pode me levar para o outro lado?”. O sapo responde de pronto: “Eu heein! Você quer é me dar uma ferroada”. Ao que o escorpião retruca: “Tá louco sapo? Se eu te picar você morre e aí vamos pro fundo do rio eu e você”. Era um argumento lógico e o sapo concordou. Quando estavam no meio do rio o escorpião vai lá e CRAU, enfia o ferrão venenoso no sapo. O sapo solta um grito de terror e exclama desesperado: “O que você fez? Agora nós vamos morrer”. Para ouvir o escorpião dizer: “Sinto muito sapo ... mas é a minha natureza”.

Não há  muito que fazer. Cada um segue a sua própria natureza.
Como diz o samba popular:
Tudo está em seu lugar. Graças à Deus. Graças à Deus.

Gui Mallon