domingo, 12 de outubro de 2014

O PAPEL DA GLOBO NAS ELEIÇÕES 2014

(English text bellow)
 

No verão parisiense me deparo nos Jardins de Luxemburgo com uma cópia da Estátua da Liberdade. O seu braço esquerdo carrega um livro onde aparece a mística data: "15 de Novembro de 1889". Qualquer brasileiro pode se enganar e pensar que a estátua foi levantada em homenagem à instauração da República no Brasil. Mas, não, é uma coincidência. Esta é a data em que a primeira versão/esboço em bronze do escultor Bartholdi foi inaugurada naquele jardim.

Bertrand Russel, em uma famosa "Mensagem ao Futuro", durante uma entrevista dada à BBC nos anos 50, recomenda a nós, os seres humanos do futuro, que, quando quiséssemos analisar a realidade, tentássemos evitar a tentação de traduzir os fatos como queremos  que eles fossem, mas sim, que tentássemos nos  concentrar nos fatos como eles são em si. Esta é uma regra de ouro não só para filósofos e cientistas, mas também para os órgãos de informação pública, a imprensa. No caso da mídia brasileira, esta regra parece que foi completamente esquecida. Ainda me lembro de jornais como o Jornal do Brasil ou Correio da Manhã na década de 60. Mesmo sob a severa censura da ditadura militar, estes jornais conseguiam manter uma dignidade que hoje, com toda a liberdade que vivemos, tornou-se rara. Como estratégia editorial, definitivamente, não faz mais parte da prática do jornalismo no Brasil. Isto, sim, é um fato. Os maiores jornais brasileiros renderam-se aos interesses políticos do partido neoliberalista, PSDB, baixando seu padrão de ética ao nível folhetinesco político que existia no século XIX.

O poder da TV GLOBO, apesar de seus índices de audiência cada vez menores, mantém-se mais ou menos inalterado no quesito "articulações institucionais"; onde tenta impor uma espécie de consenso monolítico, na mídia, no Congresso, no Jurídico e em certas instituições culturais não governamentais de peso, através da intimidação, sabotagem e manipulação de informação. Mas a GLOBO parece estar vivendo uma crise de identidade. Em 2013, por exemplo, vieram a público declarar que "foi errado apoiar a ditadura". Uma declaração que veio um pouco tarde (49 anos depois), após terem sido o órgão de imprensa porta-voz da ditadura e, consequentemente, o mais beneficiado economicamente pelo regime ditatorial, saindo da posição de terceiro jornal local no Rio de Janeiro - justamente atrás dos dois jornais acima mencionados - para o de maior conglomerado de comunicações do Brasil.

O que vemos hoje é uma organização midiática que surgiu e foi estruturada para ser parcial e apoiar grupos políticos autoritários e golpistas, e que não consegue se adaptar aos novos tempos e mudar suas estratégias após a redemocratização. Ao contrário, a GLOBO continuou a interferir de maneira escandalosa e antiética na política nacional, como ficou demonstrado no lamentável episódio da edição do debate entre Lula e Collor de 1989, como eles mesmo admitiram. Mais recentemente, a intervenção da GLOBO pode ser sentida de maneira clara na espetacularização do processo do mensalão no STF, nas suas manchetes imparciais (vejam o manchetômetro) e nas recentes publicações seletivas dos depoimentos de escândalos de corrupção na Petrobrás - que deveriam ser feitos sob sigilo de justiça. A escolha da ocasião para a publicação destes depoimentos não foi casual.

A questão que permanece é: Qual será o futuro da GLOBO*?
Virão, talvez, pedir desculpas novamente, daqui a alguns anos, pela interferência feita ao processo democrático brasileiro em 2014, quando o estrago já foi feito de maneira irreversível?

Gui Mallon


* para maiores informações sobre a GLOBO. ___________



ROLE OF MEDIA MONOPOLY IN THE PRESIDENTIAL ELECTIONS​ IN BRAZIL
 
I'd like to suggest a closer look into the Brazilian elections. It would be interesting to know your perspective, from an independent European media, about the events in Brazil right now.  
It is of public knowledge the fact that the GLOBO organisations form the largest media monopoly in Latin America. GLOBO became an empire/monopoly thanks to the sponsoring of the military presidents under 25 years of a repressive dictatorship regime, from a position of a third local news-paper in Rio de Janeiro to the one as the largest media conglomerate in the country. In those iron years, Globo acted as a major propaganda device for the military regime.

(As an example, a typical Globo tv-program from 1975:
https://www.youtube.com/watch?v=YGiQXNf02eQ)



Recently, after
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the big manifestations that took the streets of Brazil in 2013, they admitted in public their "mistake" concerning their support to the Brazilian dictatorship. As you can see, they do that "au passant", as it was a small graphic error in the previous newspaper edition:
https://www.youtube.com/watch?v=9OCvABy2pBg


But the fact is that, since the democratisation (1985), they have ostensibly manipulated information to favour their political group, always closer to Washington and to neoliberal policies. In 1989, they outrageously edited a debate between the two presidential candidates Lula and Collor, to favour Collor, who won the elections. This is a fact of public knowledge and it was also admitted by Globo:
Now, Globo, together with their allies A Folha de São PauloRevista Veja e Estadão, are orchestrating the most extensive degrading campaign against the Brazilian Labour Party (of the ruling president Dilma) trying to improve the chances of victory for their candidate Aécio Neves. In the last months, but specially in the last days, their front-page headlines carry nothing but accusations - sometimes, as yesterday, eight headlines. Accusation in the framework of this electoral dispute becomes quickly interpreted as summary condemnations.  

Will Globo also ask forgiveness for their actual actions in a few years, when the damage to democracy has already been irretrievable?

​Gui Mallon