quinta-feira, 15 de novembro de 2012

CENTENÁRIO GONZAGÃO


Homenagem à LUIZ GONZAGA 
em Bom Jardim-RJ

Se fosse vivo, Gonzagão estaria completando 100 anos de vida no dia 13 de dezembro de 2012. O MinC, através do Pró-Cultura, e a Funarte, criaram o PRÊMIO FUNARTE CENTENÁRIO DE LUIZ GONZAGA para incentivar projetos que se inspirassem na rica herança deixada pelo compositor. O compositor GUI MALLON foi um dos agraciados e foi para Pernambuco realizar pesquisas, gravações, filmagens e interações.


GUI MALLON, que viveu 25 anos entre Europa e EUA, dará um concerto com sua banda no Galpão Cultural Margarete de Jesus em Bom Jardim-RJ, no dia 13 de dezembro, dia do centenário de Luiz Gonzaga, às 20.00 e 21.30 horas. O público bonjardinense não só assistirá a PRIMEIRA AUDIÇÃO MUNDIAL da obra GONZAGUIANASescrita por Mallon ao mestre nordestino, como também fará parte, se quiser, da gravação do vídeo-documentário que será exibido na Europa e EUA.



maiores informações:
tel: 022 88063330



links musicais:

LEK  - Gravada ao vivo no FESTIVAL DE JAZZ DE MONTREUX 
BADINERIE DE BACH - Gravada ao vivo na Radio & Tv Sueca
BAIÃO 2 - Gravada ao vivo no FESTIVAL DE JAZZ DE MONTREUX
DANZA KAFKANIANA
 - Solo de violão

HINO NACIONAL
 - Solo de violão
FANTASIA GONZAGUIANA
 - para quarteto de cordas

patrocínio:


                                  

terça-feira, 6 de novembro de 2012

É o Destino


                                                                                                   
Pensava eu no alto da noite, na minha tradicional e gostosa "hora da insônia", e pensava nessa coisa que chamamos "destino". Vira e mexe me reaparece o termo, como se fosse uma bola plástica submersa entre as ondas mentais; afundando e voltando à consciência, ao sabor das ondas: Destino. Des ... ti ... no.  Esta última sílaba "no", ao final, sempre me provoca uma ligeira náusea, quase-dor, porque relaciona a palavra à negação, ao não, a tudo que me foi negado na vida por causa desse tal de desti-no-Nooooo. "É o Destino".  O sentimento místico de direção, sentimento de destino; chamem como quiserem - intuição, dejàvú - é a característica psíquica mais forte dos humanos, força motriz dos acasalamentos, principal baluarte das religiões e mesmo de ideologias políticas. É perigosíssimo relacionar estas duas palavras: destino e política. E ainda mais perigoso relacionar destino com amor.

"Você é bom com as palavras", mencionou uma ex-namorada num muchocho, expressando desprezo, rancor e tristeza. Na verdade, foi a maneira sucinta que ela encontrou na ocasião para calar a minha boca, disassociando tudo o que eu dizia de qualquer substância comunicativa, fechando a porta da interação. "São apenas palavras", estas minhas palavras esquisitas, pretenciosas, inteligentes ou não; que pretendem mudar dinâmicas existenciais ou ter algum fundamento na cultura, na história ou na arte. Minhas palavras são, para essa ex-namorada, nada mais que "palavras". Sons desprovidos de sentimento ou sentido. Senti-me condenado por possuir palavras, por ser artista, poeta, músico, enfim, por ser o que sou. É o destino.

Talvez, se eu acreditasse que minhas palavras pudessem ter algum alcance, eu teria dito: Imagine, moça, um ser humano sem palavras? Uma bio-estátua. Será este o novo modelo de virtuosidade da contemporaneidade: o laconismo total, a estatualização? Ser "cool" como os norte-europeus nos seus personagens cinematográficos, com sua economia de gestos lentos e estudados. Mas, tivesse eu dito estas palavras, elas teriam resvalado nos ouvidos já petrificados daquela mulher. Nada é mais terrível do que a invisibilidade. O castigo da invisibilidade é amplo e irrestrito: castiga os dois lados da moeda da comunicação. À revelia.

A visão do outro só é possível através do compartilhamento de valores comuns, aquilo que chamamos cultura. E se cultura também for destino?  Quem pode garantir que não é? As vezes um indivíduo muda o curso da história de maneira radical: Jesus, Maomé, Robespierre, Hitler, Lenin ou Lennon, (depende da perspectiva). Provavelmente estes indivíduos também sentiram-se imbuídos, em algum momento, da intuição do destino ou do sentimento de missão histórica. Não me é estranha esta sensação, talvez seja algo comum a todos nós. Nem sempre estas intuições procedem (o que impede a confirmação da teoria), mas elas tornam, ao menos, o enredo da vida mais interessante. Saber por exemplo que Abraham Lincoln disse à sua esposa, horas antes de ser assassinado, que gostaria de visitar a Terra Santa. Saber que este homem determinado (que reformou seu país apenas por acreditar que todo homem tinha direito à vida, à liberdade e a busca da felicidade), foi assassinado por outro homem determinado, me faz pensar em ... "destino".

Hoje é dia de eleição presidencial nos Estados Unidos. Temos de um lado o presidente Obama, representante da civilização contemporânea. Do outro, o mórmon Romney. Me parece inconcebível que a cultura americana, que já esteve na vanguarda do pensamento livre, possa produzir um impasse destas proporções, nos trazendo um protagonista que parece ter saído diretamente da cultura do século XVII. Talvez tenhamos todos que emigrar para os EUA, para que a "America" possa, finalmente, ver o mundo e o seu tempo?

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

CHEIAMARELA

CHEIAMARELA


Ela surge meio à linha das montanhas
amarelando luz à Leste, para o Oeste,
logo após as cantorias das cigarras
amagificando o olhar do anoitecer.

Dela emergiu a mitologia das fadas.
Não há dúvida, querida bola amarela,
pela maneira como tu moves, eu digo:
és fêmea; és mulher singela, e cabocla. 

Nesta quadra três, já está bem aprumada
no meio d'Alto Sertão. Mais magra e pálida.
Perdeu "sustância" amarela, deu luz à Prata,
"ilumiô" meu céu, minha casa...e meu coração. 




trilha sonora: FANTASIA GONZAGUIANA para quarteto de cordas
http://soundcloud.com/gui-mallon/fantasia-gonzaguiana

domingo, 30 de setembro de 2012

FRIBURGO

 
Minha primeira visão do centro de N.Friburgo, em dezembro de 1962


A família carioca alugou uma casa em Mury, no início do verão, em dezembro de 1962. Mury era como se fosse outro município: quem lá morava, lá ficava. O último ônibus de Friburgo para Mury creio que saía no horário de 14 ou 15 horas (a FAOL, como sempre, muuuuuito pragmática e muquirandopolitana). Creio que visitei o centro de Friburgo umas duas vezes, no máximo. Destas ocasiões lembro-me claramente do trem que passava, curiosamente, no meio da avenida central da cidade. E de uma loja de chocolates suiços, muito apreciada por todos, que já não me lembro onde ficava. Lembro-me que nestas nossas visitas ao centro eu comia chocolates e via o trem passar bucolicamente, como se fosse um imenso animal selvagem domesticado desfilando em uma parada circense. Hoje eu gosto de imaginar que, ali perto de onde eu estava vendo o trem cruzar a avenida Alberto Braune, mulheres grávidas estavam circulando pelas ruas da cidade, e iriam neste mesmo ano parir pessoas que iriam entrar na minha vida anos mais tarde, de maneira significativa, na forma de amizades, alunos, amores. Este pensamento "magnifica" o significado deste singelo momento que vos descrevo, apesar de, no exato momento em que eu o vivenciava, ele não ter significado nada mais do que o inocente usufruir do sabor de um chocolate somado a visão de um trem.



 
Na casa alugada havia uma piscina, localizada ao lado de um campinho gramado, verdinho, onde eu jogava futebol com outras crianças. À noitinha este campo povoava-se de sapos enormes, que faziam grande algazarra e tentavam invadir nossa casa. Mas isto, agora, eu não sei dizer se era real ou parte dos meus sonhos. Eu tinha oito anos de idade e adorei aquele lugar, apesar de sentir frio, mesmo no meio do verão.

Eu fiz amizade com um garoto friburguense, lourinho de olhos azuis, que gostava de empoleirar-se escondido no alto de um morrinho, para jogar pedras de barro em cima dos carros que passavam na estrada lá embaixo e sair correndo depois pela mata adentro. Eu passei a acompanhá-lo nessas aventuras, mais para observar. Um dia ele atingiu um carro preto, que freiou violentamente, saindo lá de dentro um homem vestido de terno preto e óculos escuros. Ele nos viu correndo para a mata e gritou algumas coisas que não entendemos, mas que nos assustou o suficiente para não repertirmos mais a experiência.

As férias acabaram e eu voltei pro Rio. Aquele menino friburguense nunca mais vi. A casa alugada já não consigo lembrar-me onde ficava. O trem  um dia foi embora e nunca mais voltou. O homem de óculos escuros visita meus sonhos às vezes. A loja dos chocolates que continham licor, ao final, acho que ficava em Mury mesmo. A montanha que aparecia por detrás do trem já não aparece mais nos cartões postais ... e parte dela desabou no dia 12 de janeiro de 2011, arrastando um prédio e causando a morte de muitas pessoas.

Eu posso apenas imaginar o que aconteceria, hoje em dia, se dois meninos atirassem pedras em carros, ainda que fossem pedras de barro, provocando freiadas e a ira de motoristas vestidos de preto com óculos escuros. Estes meninos certamente correriam um grande risco de levarem um tiro.

sábado, 8 de setembro de 2012

O (re) NASCIMENTO DO BRASIL

Hoje, dia 7 de setembro de 2012


Feriadão. Me entreguei à uma gripezinha gostosa. Deixei minhas micropartículas se manifestarem livremente dentro do meu corpo.
O corpo é uma maravilhosa invenção divina. Quantos eventos não foram necessários desde a explosão cósmica original para que este corpo pudesse tomar esta forma, desenvolver este metabolismo e sugerir tudo o que sugere na minha vida?
O corpo fala conosco, como se fosse um médico caseiro:

"É velho Gui, desta vez não deu pra liberar. Você vai ter que encarar essa temporária queda energética, necessária pra gente poder bater mais uma vez (como sempre) a turminha da pesada, ou do pesadelo. A turminha é persistente, como as hienas na caça. Sabemos que um dia eles irão vencer-nos. Mas este dia ainda não chegou, eu posso te garantir. Portanto, relaxe! Leia um livro. Dedique-se a alguma atividade leve, tipo escrever no teu blog. Ou quem sabe, aproveitar a ocasião, e fazer um arranjo do HINO NACIONAL para violão solo, coisas desse tipo".

Sim, boa metáfora: a morte como um grupo de hienas que nos caçam persistentemente. Não há mamífero mais obcecado do que a hiena. Mas, como todos os predadores, a hiena tem uma função sagrada em Gaia, nosso ecosistema global, que é limpar os resíduos. A morte é como uma poda. Ou uma purificação; fortalecimento da vida dos que sobrevivem.

E refletindo sobre estas coisas no Dia da Pátria, sobre tudo que vivi quando aqui estive nestes últimos 4 anos, cheguei a metáfora que definiu, dentro de mim, o atual momento brasileiro:

O Brasil é uma borboleta, prestes a nascer,
cercada pelo próprio casulo morto, apodrecido.




quinta-feira, 5 de julho de 2012

VIVA LUIZ GONZAGA - 100 anos

Busto na entrada do Museu Luiz Gonzaga, em Caruaru-PE  
Entre os músicos brasileiros que formam os pilares básicos da cultura musical brasileira, Luiz Gonzaga é uma das influências mais remota, mais fácil, mais alegre. Se fosse vivo, Gonzagão estaria completando 100 anos de vida no dia 13 de dezembro de 2012. O MinC, através do Pró-Cultura, e a Funarte, criaram o PRÊMIO FUNARTE CENTENÁRIO DE LUIZ GONZAGA para premiar projetos que se inspirassem na rica herança deixada por Gonzaga. Fui um dos agraciados e sinto-me imensamente grato pela honraria.

Sem ser nordestino, especialista ou praticante assíduo da música popular nordestina, sempre tive em Luiz Gonzaga uma das minhas maiores referências ou influências, das quais me utilizo para criar minhas próprias obras inspiradas na música nordestina; mesclando outras influências como o jazz, o rock, o barroco ou a música sinfônica. Hermeto Pascoal, outro compositor que é um grande pilar da música instrumental brasileira, já mesclava harmonias jazzísticas com ritmos nordestinos, desde os anos 60.  O interesse aqui é semelhante: criar sonoridades que incluam o forte sabor de ancestralidade da música nordestina dentro da prática da música e da arte contemporânea. 


Em uma das faixas do meu primeiro álbum autoral, o compacto duplo vinil Bons Ventos (1984), no baião-rock Estação Orbital do Cariri, inclui instrumentos típicos da música nordestina como zabumba, triângulo, viola sertaneja, com outros como guitarra elétrica e sintetizadores. No álbum Live at Montreux (2004) estão incluídos dois baiões instrumentais: a faixa introdutória Baião Tva e Baião, oitava faixa do disco, quinto movimento da Suite Brasil, Brazil, que obtiveram críticas favoráveis da imprensa especializada americana, entre eles a revista JazzTimes.  Em 2002, ao ganhar o apoio do Konstnarsnamnden (Conselho de Cultura Sueco) para escrever obras para quarteto de cordas, compus Fantasia Gonzaguiana; uma peça que homenageia o compositor Luiz Gonzaga e que foi apresentada em Estocolmo pelo quarteto de cordas Harjukvartett.


Para ouvir:


FANTASIA GONZAGUIANA (2002): http://snd.sc/FQIuF1

BAIÃO TVA(1999): http://snd.sc/FQI1oz

ESTAÇÃO ORBITAL DO CARIRI(1984): http://snd.sc/yadL49

O universo artístico-cultural nordestino, do qual Luiz Gonzaga foi o maior porta-voz, está entre nossos patrimônios culturais mais preciosos. Sempre acreditei que este patrimônio pudesse (e devesse), cada vez mais, ser compartilhado e fazer parte da cultura universal, assim como outras tradições artístico-musicais. Não só através do cultivo, mas da sua tradução e (re)inauguração. Um exemplo destas traduções e reinaugurações pode ser apreciada em uma peça do flautista sueco Anders Hagberg intitulada Lek (brinquedo). Nesta peça estão mesclados elementos musicais do folclore do Norte da Suécia com os da música nordestina brasileira. Gravada ao vivo no Festival de Jazz de Montreux pelo Gui Mallon Ensemble, pode ser ouvida através deste link: LEK

Até o dia 13 de dezembro de 2012, dia do seu nascimento, estarei lançando uma nova composição em homenagem a Luiz Gonzaga, que se intitulará GONZAGUIANAS 2012. 


Viva nosso mestre sanfoneiro! 
Viva Luiz Gonzaga!

domingo, 1 de abril de 2012

MEU BRASIL BRASILEIRO - capítulo III

música: ARIA de J.S.BACH - arranjada por Gui Mallon e tocada pelo Gui Mallon Ensemble,
dedicada aos que foram assassinados durante o regime de DITADURA MILITAR (1964-1985).
(english translation follows)
DIA 1 DE ABRIL DE 1964 - Dia da Mentira. Dia da Vergonha.

O RETORNO DA ESCRAVIDÃO EM PLENO SÉCULO XX


Só que, dessa vez, extensiva a todos os cidadãos brasileiros, porque foi uma ESCRAVIDÃO DO ESPÍRITO HUMANO E DAS IDEIAS.

Nunca vivemos na história contemporânea do Brasil um período tão ACÉFALO.
E sofremos até hoje dessa acefalia geral no plano político. Nossa vida política ainda é muito BURRA (!) 
porque todo um processo inteligente de formação e discussão de ideias foi brutalmente eliminado da história do país, junto com a eliminação dos mais valorosos homens e mulheres de uma geração sonhadora. Não houve diálogo, nem dialética, e o país se empobreceu com isso.

Hoje, dia primeiro de abril,  dia da mentira, devemos colocar tarjas pretas nos braços.
Hoje, 1 de abril, dia do Golpe Militar de 1964, declaramos o
DIA DA VERGONHA NACIONAL



____________________________________________________
música: ARIA de J.S.BACH - arranjada por Gui Mallon e tocada pelo Gui Mallon Ensemble,
dedicada aos que foram assassinados durante o regime de DITADURA MILITAR (1964-1985).


DAY 1 APRIL 1964 - April Fool's Day. Brasil's Day of Shame.
THE RETURN OF SLAVERY INTO THE TWENTIETH CENTURY.

Only this time it was extended to all Brazilian citizens, because it was essencially a SLAVERY OF THE HUMAN SPIRIT AND IDEAS.

Never before in Brazil's contemporary history we have witnessed such an acephalous period. And we suffer still today of this general political acephalia. Our political life is still very stupid (!) because all an intelligent process of formation and discussion of ideas was brutally extirpated of the country's history, along with the elimination of the most brave and bright men and women of a generation of dreamers. There was no dialogue, or dialectic, and the country became impoverished thereby.

Today, 1 April Fool's Day, we should put black stripes on our arms.
Today, April 1st, the day of the Military Coup of 1964, we must declare
T H E  N A T I O N A L    D A Y  OF  S H A M E

quinta-feira, 8 de março de 2012

UM DIA AINDA NECESSÁRIO

Dia Internacional da Mulher
     (English translation down)





música comemorativa ao Dia da Mulher: Det är så svårt en gång att leva.



Anna Ottertun - musician, teacher, mothe
O próprio fato da mulher precisar de um dia comemorativo já é humilhante e nos diminui”, diz minha amiga, escritora, artista e filósofa Ulla Gabrielsson. Sim, todos os oprimidos têm um dia de luta: Dia 8 de março - Dia da Mulher; Dia 19 de abril - Dia do Índio; Dia 20 de novembro - Dia da Consciência Negra. Dia 28 de Junho - Dia dos Homossexuais. Mas o fato de não existir um “Dia do Homem” ou “Dia dos Heterossexuais”, coloca uma sombra um pouco triste nestes dias, como se os discriminadores pudessem dizer com um muchocho: Nós não precisamos disso.

Por isso quero sugerir que se crie também o Dia do Homem. Ou, por exemplo, Dia do Pai Solteiro, outra espécie que luta contra todo tipo de discriminação e preconceito. Para o Dia do Homem, sugiro dia 27 de agosto. Por que? Ora, pesquisem um pouco.



Mas, de qualquer modo, é sempre bom festejar. Principalmente festejar essa entidade maravilhosa que é a mulher. Por isso deixo aqui minha homenagem em forma da canção de minha autoria, com letra em sueco:
Det är så svårt en gång att leva. (É tão difícil viver uma só vez)

A primeira vez que esta música foi tocada ao vivo foi num outro 8 de março, em 1997, na Musiken Hus (Casa da Música) em Gotemburgo, Suécia. Sobre a cantora: uma mulher estraordinária, musicista virtuosa, compositora, artista, poliglota, viajada, mãe de três filhos de dois casamentos. Tudo isso já aos 23 anos. Esta mulher não ficou trancada em casa ou em lugar nenhum. Nenhuma seita ou religião a prendeu. Nenhum partido político. Ela é simplesmente  “imprendível”. Não se deixou empacotar ou apequenar jamais (apesar dos seus 1.59 cms).


Neste Dia Internacional das Mulheres, quinze anos depois, eu homenageio metaforicamente todas as mulheres através da cantora Anna Ottertun - minha grande e querida amiga - como símbolo do poder criativo balsâmico regenerador das mulheres. Ah ... minha boca se enche de água quando eu digo: VIVA AS MULHERES !!


Tradução da letra:

É tão dificil viver uma só vez
Tão dificil uma só vez morrer

Quantos dias você pode sentir saudade
e doar tuas lágrimas a um lago?
Cada passo é sem fim ...
cada noite, um mar negro imenso
onde
todos os pensamentos
são
mil vezes repensados

larga teu eu pequeno
LARGA(!) esse teu pequeno eu

Algo me faz falta e eu sinto saudade…



In Swedish:

Det är så svårt en gång att leva
Så svårt en gång att dö
Hur många dagar kan du bara längta
Och skänka dina tårar till en sjö?
När varje steg är utan ände
Och varje natt är ett stort svart hav
Och alla tankar
Tusen gånger omtänka
Lämnar du ditt lilla jag
Lämnar du ditt lilla jag
Något fattas mig och jag saknar…

 (English translation)
International Women's Day


"The very fact that women need a day to commemorate it's humiliating and diminishes us," says my friend Ulla. Yes, all the oppressed have a celebration day: March 8 - International Women's Day; April 19 - Indian Day, 20 November - Day of Black Consciousness. Homosexuals also have their day - June 28. But the fact that there is not a "Day Man" or "Straight Day" puts a little shadow of sadness on these comemorative days, as the discriminators could say: We do not need that.

So I suggest that we create also the Day of Man. Or, for example, Single Father's Day, another species that fight against all forms of discrimination and prejudice. For the Day of Man I suggest Aug. 27. Why? Come on! Do a little research.

But either way, it's always good to celebrate. Specially this wonderful entity that is woman. So I give here my tribute in the form of a song in Swedish: 
Det är så svårt en gång att leva. . (It's so hard to live once)

The first time this song was played live was in another March 8, (1997) in the House of Music in Gothenburg, Sweden. The singer, an extraordinary woman, a virtuous musician, a composer, an artist, a polyglot, has traveled around quite much, mother of three children from two marriages. All this by only 23 years old. This woman was not locked up at home or anywhere. No sect or religion locked her up. No political party. She is simply "unlockable." She does not let others to belittle her, never (despite her 1:59 cms).

On this International Women's Day, fifteen years later, I pay my
metaphorical tribute to all women through the singer Anna Ottertun - my great and dear friend - as a symbol of the creative regenerator balsamic power of women. Ah ... how my mouth fills with water when I say VIVA WOMEN!


quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

BRASIL, MEU BRASIL BRASILEIRO - Capítulo II


trilha sonora:  Canon em Ré Maiorarranjada e tocada por Gui Mallon & Trio





Aí eu pergunto, só por perguntar: O que aconteceria se eu repentinamente tirasse o meu violão da caixa e tocasse o Canon in D Dur de Johann Pachelbel no por-de-sol da Pedra do Leme, num dia de verão qualquer, acompanhado de um quarteto ou trio de cordas?   


Aí então eu me pergunto o óbvio: E porque não no por-de-sol do Alto da favela Chapéu Mangueira, caro Gui, por que não mais 
 em cima, logo aqui ao lado? Tocar na Pedra é até fácil demais. Moradores de Copacabana, e principalmente do Leme, tem um dos mais altos índices de tudo de bom que a estatisticocracia pode proclamar: IDS- Índice de Desenvolvimento Humano; cultura, saúde, coeficiente de beleza (não sabiam? Existe!), etc, etc. Estas divagações me passaram pela cabeça enquanto sorvia minha modesta malzebier em um dos dois quiosques que ficam lá na Pedra do Leme ...


Grande parágrafo explicatório:  (desculpem-me os aficionados da cerveja nacional, mas essa é a única cerveja brasileira que eu ainda consigo ingerir. A predileção vem desde os meus tempos de criança, quando bebia escondido nas sobras dos adultos. Protagonizei o meu primeiro porre aos 8 anos de idade com meio copo da Malzebier, dando vexame irreparável na casa de um tio que morava na Vila Matilde em São Paulo, donde se reunia toda a famiglia italiana em ocasião festiva: rebolei e imitei o Elvis Presley cantando Too Much Monkey Business). Pois é...




Mas onde é que eu estava mesmo? Ah, as divagações sobre o dilema maior da grande questão da inovação na arte, ou na vida: pisar em terreno conhecido na margem do rio ou se atirar no mar desconhecido?
Não que o tricentenário Canon de Pachelbel seja algo revolucionário, apesar de eternamente intrigante, com sua base harmônica obstinada de 8 acordes, que sucedem em variações imitativas. Não. Tocar barroco alemão na praia é incomum, mas já deve ter acontecido algumas vezes. Tocar o Canon de Pachelbel ao violão acompanhado de cordas, que eu saiba, fui um dos primeiros, ou pouquíssimos, a fazê-lo. Mas tudo isso junto, sem aviso prévio, na Praia do Leme ou no Chapéu Mangueira, seria contrariar a máxima da arte  musical, ou da arte de modo geral: "dar ao público o que o público espera". Ao oferecer o inesperado, ao negar ao público o que o público espera, corre-se alguns riscos.




E voltemos (insistentemente) a Pero Vaz de Caminha:



"
 
  E uma daquelas moças era toda tingida, de baixo a cima daquela tintura; e certo era tão bem feita e tão redonda, e sua vergonha (que ela não tinha) tão graciosa, que a muitas mulheres da nossa terra, vendo-lhe tais feições, fizera vergonha, por não terem a sua como ela "  (Pero Vaz de Caminha)

A nudez dos indios, tão natural para eles, era algo do outro mundo para os europeus. Tocar o manjadíssimo Canon de Pachelbel inesperadamente no Chapéu Mangueira não seria um choque tão magnífico, não. E assim divagando fui tomando minha malzebier no por-de-sol da Pedra do Leme. Para realizar essa loucura eu teria que convencer primeiro um quarteto de cordas, arranjar apoio institucional, talvez buscar verbas em editais para financiar transporte, cachês, segurança, etc, etc. Não, obrigado. Já me cansei só de imaginar. Tá bom assim como tá. Que outro roube minha ideia e a realize, com meu inteiro aval. As ideias não tem donos, não tem amarras, foram feitas para voar.






nota: Por falar em "roubar ideias", amigos me pedem para comentar sobre o Monumento aos Mortos das Chuvas na Região Serrana feito pelo Jaburú e seus associados. Será a próxima crônica desta série Meu Brasil Brasileiro. Aguardem.





Se procurar bem você acaba encontrando.
Não a explicação (duvidosa) da vida,
Mas poesia (inexplicável) da vida.
(Drummond de Andrade)

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

BRASIL, MEU BRASIL BRASILEIRO - capítulo 1

"Nada produz maior riqueza de definições do que as coisas indefiníveis" 


Alto do Corcovado, 26 de janeiro de 2012

trilha sonora: Navegando - composta e tocada por Gui Mallon


Olhem só o Brasil, gente. O Brasil é grande, belo, impávido, colosso.
É compreensível que todas as gerações de brasileiros, criados dentro dessa magnitude de cenários geográficos desde o início da colonização européia, tenham sonhado seus sonhos de grandeza.


"
 
 E uma daquelas moças era toda tingida, de baixo a cima daquela tintura; e certo era tão bem feita e tão redonda, e sua vergonha (que ela não tinha) tão graciosa, que a muitas mulheres da nossa terra, vendo-lhe tais feições, fizera vergonha, por não terem a sua como ela "  (Pero Vaz de Caminha)


Ao ler a carta de Pero Vaz de Caminha, o que mais me impressiona 
não é a constatação do embevecimento dos primeiros europeus que chegaram ao Brasil pela exuberância da natureza tropical do Novo Mundo, nem seus relatos das visões paradisíacas, tautológicas e redundantes, mas, muito além disso; o caráter dos exploradores pré-escravagistas, ainda não inoculados pela voracidade que viria tomar conta do sistema colonial português, que traria o enriquecimento fundamentado no uso de mão de obra escrava, cujas consequências na formação cultural do Brasil se constituíram na nossa maior chaga ... e no maior obstáculo à realização dos nossos sonhos de grandeza. 


Os portugueses que chegaram à praia de Boa Viagem em 1500 haviam se iniciado no comércio escravagista, de modo incipiente, apenas 25 anos antes. Pode-se afirmar que ainda eram formados na onda das ideias humanísticas da renascença que impregnava o ambiente cultural europeu já por dois séculos. À sua maneira (e comparações à parte) eram quase tão puros quanto os indígenas que observavam. Então o que aconteceu com o colonizador? Pela Bula Dum Diversas, de 18 de Junho de 1452, o papa Nicolau V concede ao rei de Portugal D. Afonso V, e seu sucessores, a faculdade de "conquistar e subjugar as terras dos infiéis e de reduzir a pessoa deles à escravatura".  Esta medida não era tão extraordinária para a época. Talvez fosse apenas uma consequência, ou formalização, do fato real que a escravidão já era uma prática comum no continente africano desde pelo menos o século VII, como constataram os primeiros cruzados. Há também o fator econômico, a escassez de mão de obra européia (Portugal tinha apenas dois milhões de habitantes no século XVI). Muitas outras causas podem ser citadas para explicar a escravidão.
 

Seja como for, o escravagismo marcou profundamente a cultura brasileira em todos os sentidos. Está na raiz, acima de tudo, da nossa descrença patológica na justiça da estrutura do sistema político brasileiro (ou na justiça de modo geral), razão do círculo vicioso maior da nossa cultura: Porque eles não respeitam a lei, de que nos vale respeitá-la? E assim tardamos nós brasileiros, descendentes de intrépidos navegadores, em descobrir a rota que nos levaria a outros mares que não este nosso Corruptio Maris.

Mas voltemos à Pero Vaz de Caminha:
" e suas vergonhas tão nuas, e com tanta inocência assim descobertas, que não havia nisso desvergonha nenhuma "  

O espontâneo, quase poético, reconhecimento do colonizador sobre a superioridade moral do "colonizável" é pungente, apesar de involuntária. Dentro de nós ainda vive o escravagista e o escravo, mas, paradoxalmente, também carregamos um pouco da inocência do índio e dos primeiros portugueses que chegaram ao Brasil.

Entre os meus sonhos brasileiros mais grandiosos, existe este que me diz que a poesia ainda pode explicar (e salvar) o Brasil.



"A minha vontade é forte, mas a minha disposição de obedecer-lhe é fraca"
(Drummond de Andrade)
Mas não liga non Drummond, porque como você tão bem o diz:


Se procurar bem você acaba encontrando.
Não a explicação (duvidosa) da vida,
Mas a poesia (inexplicável) da vida.