terça-feira, 27 de agosto de 2013

GuiMallon v6.0



FIRMWARE: Configuração polimática de origem portuguesa-italiana-sueca-inglesa-espanhola-francesa-afrobrasileira. Instruções operacionais de matiz própria, desconhecida, que realiza funções sonoras, textuais, sensuais, imaginativas. Observação: Funciona por controle remoto ou presencialmente. Acesso: guimallonv6.0@gmail.com

FIRMWARE: Polymathic configuration of Portuguese-Italian-Swedish-English-Spanish-French-Afro-Brazilian origin. Operating instructions of own, unknown hue, which conducts sound, textual, sensual, imaginative features. Note: Work by remote control or in person. Acess:
guimallonv6.0@gmail.com

sexta-feira, 21 de junho de 2013

O MUNDO INSUSTENTÁVEL E O "POVO" PÓS-MODERNO

O "monstro" acordou
Recebi e-mails de amigos que estranharam meu silêncio ante as manifestações que estão ocorrendo no Brasil. É que desde o início senti o perigo.


As manifestações brasileiras surgiram, dizem, de um movimento intitulado Passe Livre.
Ou foi graças ao Alckmin e a sua polícia, reprimindo de maneira brutal os primeiros movimentos reivindicatórios? É a FIFA, a PEC 37, a corrupção generalizada ou o Mensalão que revoltou o povo?

A presidenta Dilma, nesta manhã de sexta-feira, dia 19 de junho de 2013, está reunida com o seu ministério para analisar o recrudescimento da violência. Imagino o que não deve estar passando pela cabeça da presidenta, ex-militante dos tempos da ditadura, tempos em que sair às ruas ou fazer oposição era um ato de bravura, muito mais arriscado do que hoje. E estar agora na situação surrealista de ter que reprimir as manifestações do povo. Não há outra saída. O "povo" não age dentro de um só objetivo, como nas manifestações das Diretas Já de 1983, ou na Passeata dos 100.000 de 1968. O "povo" simplesmente explodiu as ruas do Brasil, sem eira nem beira. O "povo" não é unânime em nada a não ser no fato de querer ser protagonista da sua própria história. O "povo" cansou-se de ser mal representado. O "povo" não acredita mais na democracia representativa. Só que o "povo" não está consciente disso e age como um bloco junguiano à deriva, conectado caoticamente pela internet.

Por que uso "povo" entre aspas?
Porque este "povo" que está nas ruas é outro povo, um povo pós-moderno. Que já não pode mais ser chamado de "povo" no sentido que se dava antes de 2013. O "povo ordeiro" que se manifestava através de seus sindicatos, instituições, agremiações, partidos políticos, etc, ainda está metido lá (meio perdido) no meio do "povo" que despertou-se aparentemente do nada (do nada?), à revelia da mídia ou do sistema, e que agora ameaça a existência das instituições e do próprio sistema.

O "povo", como um imenso aglomerado de massas sem liderança, tornou-se tão assustador quanto o estouro de uma boiada de 200 milhões. As forças políticas aglutinadas à direita ou a esquerda tentam direcionar o "povo", canalizando este movimento para os seus propósitos. Mas o "povo" é basicamente não-unânime, apartidário, sem cor, sem bandeiras, enfim, o retrato mais assustador da brasilidade contemporânea, que escancara-se ruidosamente em frente aos meios de comunicação do mundo inteiro (e o "povo" está consciente disso - sendo esta, precisamente, uma das suas maiores motivações).

A princípio o "povo" parecia estar apenas seguindo a onda mundial de manifestações antissistema, cujas raízes remontam à Paris de 1968, que já haviam sido presenciadas em Paris, Londres, Atenas, Cairo (na Primavera Árabe) e que neste ano, desembocou em Estocolmo e Instambul. Mas nestas manifestações havia ainda alguma motivação clara e identificável; racismo ou contra a opressão política. Aqui não. E este, apontam todos,  é o ineditismo da manifestação brasileira. Eu vejo, claramente, que a motivação é basicamente a mesma. O que o "povo" está gritando é: ESTE MUNDO NÃO SE SUSTENTA!

Sim, o mundo como conhecemos, é insustentável. Todos sabem disso, mas preferem esquecer. Como os viciados em cigarro, por exemplo, que sabem do caminho autodestrutivo que trilham, mesmo assim preferem não pensar nisso (para poder continuar a fumar). As reservas naturais do planeta estão se esgotando em todos os setores mais vitais; terras férteis, água potável, petróleo, até a atmosfera e a camada de ozônio que nos protege das radiações. Para continuar no estilo de vida consumista, todos nós nos tornamos um pouco cegos, arrogantes e hipócritas.

É muito emblemático e significativo que, justamente no momento da realização de um evento da FIFA, tenha acontecido a eclosão atômica do "povo" brasileiro, esta reação em cadeia que ninguém sabe onde vai terminar. A FIFA é uma das instituições mais autocráticas do planeta. Seus dirigentes são escolhidos em sistema de eleições mais fechado que o Vaticano e, ninguém duvida, digamos, da "singularidade" de suas operações econômicas, comerciais e políticas pelo mundo. Nada, como a FIFA, pode representar mais enfaticamente as duas palavras que melhor definem a causa da ira do "povo" mundial pelas ruas: ARROGÂNCIA e HIPOCRISIA.

A junção destas duas palavras está por detrás de tudo que mais odiamos no sistema político-econômico mundial. A HIPOCRISIA permite aos políticos dizer que nos representam, por lei, e a ARROGÂNCIA, a fazer o que quiserem. 

A vitória do neoliberalismo nos anos 80 e do chamado consenso econômico de Chicago, causou um desequilíbrio de forças entre as correntes históricas de pensamento político. Não existe mais partido de esquerda que possa ter um projeto político independente deste verdadeiro monólito mundial de bancos e demais instituições econômicas (o tal do "Mercado"). O "Mercado" tem reinado no mundo como um deus, desde o advento da trinca Reagan-Tatcher e Gorbatchov. Agora, o "povo" se ergueu, de maneira difusa e inconsciente, contra a lógica de efetividade do "Mercado", que desapropria casas, constrói e destrói (principalmente vidas humanas), sem escrúpulos ou empatia.

Não sei o que a presidenta Dilma está pensando neste momento, só posso imaginar. A presidenta  deve estar passando pelo momento mais crítico de toda a sua vida política. Um momento de decisão, reflexão e autocrítica. De coração ela deve estar do lado dos manifestantes, procurando decifrar suas motivações e reivindicações. Racionalmente, ela deve estar avaliando a extensão e o poder da armadilha montada pelo neoliberalismo mundial. Até que ponto suas concessões ao "Mercado" foram justificáveis?

A presidenta sabe que a direita quer e vai fazer de tudo para se utilizar das manifestações políticas em proveito próprio, desestabilizando o governo ao máximo, quem sabe até a renúncia? Porque a direita está desesperada diante da possibilidade de perder as eleições pela quarta vez seguida. Mas a direita também tem medo do monstro que ela, mais que ninguém, ajudou a despertar.

Diante da magnitude deste momento, a ameaça da FIFA de interromper a Copa das Confederações e, talvez, até suspender a Copa do Mundo no Brasil, soa como uma piada. Melhor saírem logo antes que o "povo" tome os aeroportos e decida decapitar Joseph Blatter, como fizeram com o rei durante a Revolução Francesa. Hum, muito tarde. Blatter já fugiu do Brasil.




quarta-feira, 15 de maio de 2013

ALGO ANTIGO, DE ROUPA NOVA, VIA PLIM PLIM



 É sempre interessante notar que estamos sujeitos a um bombardeio de mensagens subliminares o tempo todo.


O "Plim, Plim" com a imagem do símbolo da Globo na telinha, por exemplo, nos remete à varinha mágica dos contos de fada; uma maneira sutil e instantânea de despertar dentro de nós, de maneira subliminar, a criança ingênua, olhos esbugalhados, absolutamente crente e submissa ao narrador. Essa submissão consentida ao narrador é parte importante da narração desde tempos imemoriais. A maximização do "faz de conta" é parte importante do show business nos dias de hoje. Temos que fingir que é verdade, senão a mágica do espetáculo não funciona.




Estas mensagens subliminares parecem inocentes, mas são, na verdade, um instrumento psicológico de comando de massas, muito utilizado há tempos por todos, desde políticos a profissionais de marketing e mídia.

"Paletó (R$ 4.640), calça (R$ 1.650),
sapato (R$ 1.330)", etc, (O GLOBO)

O Lobão desafiador que surgiu no jornal O Globo em 04/05/2013, por exemplo, todo vestido de vermelho, parece apenas uma imagem montada, construída com esmero para associá-lo à imagem de algo bem mais perigoso (o demônio), e assim despertar nossa curiosidade mórbida, para vender discos e livros (olha a mensagem subliminar aí).

Nada demais ou de inédito até aqui. Os Rolling Stones já haviam flertado com o diabo meio século atrás, na canção Sympathy for the Devil (1968), uma maneira de diferenciar-se dos Beatles, que seguiam uma filosofia mais comportada, de orientalismos, de "Paz e Amor". Foi a maneira que os Stones encontraram para abrir espaço e público próprios, naqueles tempos de Beatlemania.

A extrema exposição à mídia pela qual passa o músico e escritor Lobão, no momento, poderia parecer apenas mais um detalhe da estratégia de mais um lançamento sensacionalista como tantos outros, mas não é. É algo mais. O discurso desafiador de Lobão também foi um ato cuidadosamente encaixado, conscientemente ou à revelia do próprio Lobão, na tentativa de "inauguração" de uma nova frente ideológica que se forma no Brasil com a ajuda da imprensa há algum tempo, desde as duas últimas reeleições do petismo. O L.A. Times detectou este fenômeno, em matéria de março de 2013 entitulada Brazil´s Dilma Roussef is popular, but not among news media. (A presidenta Dilma é popular, mas não na mídia). Mas qual seria então a ideologia desta frente ideológica? Qual o conteúdo? Qual a estratégia? Nada de novo, really. O objetivo é seduzir os jovens da classe média alta, futuros universitários estatais formadores de opinião, mostrando a eles a contradição óbvia de ser "de esquerda" e pertencer, ao mesmo tempo, a uma classe privilegiada. Este é o grupo que se pretende atingir.

No artigo "Mais Lobão e Menos Chico Buarque", de Rodrigo Constantino (também no O GLOBO), a comparação que se faz com Chico, considerado um porta-voz das esquerdas brasileiras de elite, não é gratuita. Gostariam de fazer do Lobão uma espécie de "anti-Chico", marcando posição e espaço entre esta juventude crítica, exatamente como os Rolling Stones fizeram a meio século com os Beatles - guardadas as devidas proporções e dentro da nossa realidade tupiniquim. Eu, pessoalmente, acho que o Lobão, apesar do indiscutível talento, jamais chegará a estatura ou ao significado político, agora ou nunca, que o Chico alcançou no seu tempo, nos anos 60-70. Se alguma chance ainda tivesse, já está velho demais para ser ícone de uma geração. E hoje, sabemos, é bem mais difícil criar uma mensagem que alcance a quase unanimidade que se alcançava antes. Deve ser chato para o Lobão ver a música de Chico Buarque ser, ainda hoje, preferida pelas "meninas da Zona Sul", sua classe de origem.  Parodiando uma frase famosa de um candidato americano à presidência, eu poderia dizer: Lobão, you are no Chico Buarque!

Mas então o que é isso? O discurso do Lobão, desprovido de profundidade ou substância acadêmica, seria apenas o de mais um lesado da cabeça, o de mais um ex-presidiário condenado por uso de drogas, o de mais um "idiota útil" à "imprensa PIG", etc? Sim e não, escolham seus lados no ringue à vontade. Mas o que eu acho mais interessante aqui não é o discurso do Lobão - que os jovens de esquerda consideram tão simplórios e desinteressantes quanto suas músicas - mas, sim, o fenômeno da hiperexposição da mídia. Por que os holofotes da imprensa se voltaram tão avidamente para ele?
E o que estes "novos pensadores de direita" por detrás dos holofotes querem dizer? Qual é a mensagem? Nada de novo.

DA LEI ÁUREA ÀS COTAS NAS UNIVERSIDADES, UMA RESISTÊNCIA CONSEQUENTE.

Se é para alguém ser indenizado, deveriam ser os próprios ex-escravos
(Rui Barbosa, respondendo aos pedidos de indenização dos ex-proprietários de escravos)

Os movimentos e manobras políticas que presenciamos hoje em dia, seja no Jurídico, na Câmara ou na Mídia, têm uma motivação semelhante aos movimentos que lutaram contra a Abolição da Escravidão no séc. XIX; a luta contra a perda de certos privilégios que se acreditava garantidos de berço. O casamento Gay ameaça o estilo de vida dos religiosos, a "Lei Seca" ameaça o estilo de vida dos cowboys das estradas, a chamada "Lei das Domésticas" ameaça o estilo de vida da classe média, a cota de negros na universidade ameaça os que podiam pagar os cursinhos, a Bolsa Família retirou a mão de obra semi-escrava do campo (inclusive de crianças), etc. Aos resistentes temos que perguntar: Qual é a alternativa ao avanço da civilização? Deixar que crianças continuem a morrer de fome ou sejam exploradas nos campos? Que pessoas morram nas estradas estupidamente? Que a universidade pública continue a ser um clube privado? Que os homossexuais continuassem a ser tratados como não-humanos?

O discurso do Lobão (okay, vamos fazer de conta que aceitamos, como propõe a mídia, que o Lobão seja o portavoz dessa velha-nova ideologia caduca), poderia ser comparado aos que foram proferidos pelos que resistiram à abolição.  Se Lobão estivesse em 1888, estaria do lado dos escravagistas.

Absolutamente nada de novo em desejar uma volta ao passado.



Missa de Ação de Graças pela Abolição, a princesa Isabel e o povo, no dia 17 de maio de 1888







domingo, 12 de maio de 2013

Terra-Mãe, o poético e a poesia

Terra Óvulo
Bola verde
Bola azul


Se eu cerro os meus olhos / (como faço nesta manhã ensolarada de outono) / sou bem capaz de sentir, outra vez/ o calor, o perfume, a carícia (da voz primal, maternal) /
traduzida nos cantos dos pássaros / no ruflar das asas dos ventos / no verde amarelo que engolfa este domingo de maio / E imagino-te, Terra-Mãe / no esplendor dos teus anos / jovem, sem marcas de concreto / saltitando pelo universo / soberana, límpida, serena / declamando, à revelia, pelo teu caminho lácteo, de estrelas / a poesia do dia-a-dia / e fico feliz / ainda que saiba que a descrição do poético é apenas quase-poesia / que a vida imaginada é apenas quase-vida / não obstante, ainda assim / do meu cantinho aqui no alto da serra / fazendo de conta / vivo tudo outra vez, Mãe / tudo o que foi e o que seria / se possível fosse / Mãe-Terra

Ignez. Por ela mesma. (autorretrato)

quarta-feira, 3 de abril de 2013

ELEOÉ: UM DIA DE ABRIL

CÉU VESPERTINO - picture by Gui Mallon




Se Deus existe
em alguma forma compreensível
Se Deus fala
em qualquer forma de expressão
Este Deus me diz:
"Se tu me compreendes, então
 já estás dentro de mim"
Ou seja:
Eu sou Ele


Assim como o sentimento emergido da notícia de que
dentes crisparam-se
palavrões trocaram-se
canhões levantaram-se
entre as Coréias, israelenses, sírios
palestinos e libaneses

Ele o é...

Assim como este dedo indicador
escorregando distraidamente pelo teclado
parece mover-se independentemente
contribuindo de modo relevante
para moldar meu pensamento
nesta manhã nublada de abril

Ele o é...

Assim como a lufada de ar que penetrou meus pulmões
empurrada pela brisa verspertina que vazava
a neblina por detrás do cantorio dos pássaros
que desenhava o cenário
que me fez pensar
nestas coisas

Ele o é...



quarta-feira, 6 de março de 2013

DIA DA MULHER: A maior parceria do universo

Mais um dia 8 de março, mais um Dia da Mulher.

Desculpem-me as mulheres pela minha impertinência, mas escrevo minha homenagem com antecedência de dois dias (6 de março). Simplesmente não consegui esperar. Ando meio às turras com o relógio. Estamos passando tempos tão loucos que talvez esta não seja uma atitude tão absurda assim, ainda considerando que estamos vivendo o ápice do binômio americano: Time = Money. Mas o que desencadeou este meu autismo temporal temporário, que me leva a celebrar o Dia das Mulheres no dia 6 de março? O redescobrimento, justamente hoje, de um momento mágico de uma das parcerias mais felizes da história do jazz e do blues: Wilson Simonal e Sarah Voughan (vejam o video aqui).

Desculpem-me agora, também, as nossas justamente homenageadas mulheres homossexuais, quando uso o exemplo da feliz colaboração entre um homem e uma mulher para escrever meu tributo ao vosso dia. Mas chega de desculpas por hoje.


Wilson foi o nosso Rei do Swing. Pai precursor do Pop (brasileiro); uma espécie de rei da voz. Sua voz era a representação mais perfeita da pilantragem dos anos 60. Sarah Vaughan ... ah, Sarah, Sarita. Era a Miles Davis da voz, gogó-violino, rainha do jazz blues. Quando estes dois se encontram, naquele clima descontraído-bêbado-sem-medo-de-ser-feliz, típico da estética whisky  a go-go daqueles tempos, me dá ganas de declarar:

É simplesmente imbatível o que um homem e uma mulher podem alcançar juntos.


E para finalizar este meu texto nonsense, voltando ao Wilson, considerando que a história dos direitos civis aproxima as lutas dos afrodescendentes e das mulheres, deixo aqui mais um vídeo. Lembrem-se da música, mulheres. Lembrem-se, mulheres, de nós, homens discriminados por qualquer razão, vossos parceiros e irmãos de lutas.


bjs e VIVAVIDA!

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

A ROSA DA VIDA

Feliz Valentim!


Minha rosa morreu ...
porque me esqueci de regá-la

My rose died ...
because I forgot to water her


Min ros dog ...
eftersom jag glömde
att vattna den


Mi rosa murió ...
porque se me olvidó regarla




Meine Rose starb ...
weil ich vergaß, es zu gießen


Ma rose est mort ...
parce que j'ai oublié de l'arroser


Min rose døde ... 
fordi jeg glemte å vanne det





domingo, 27 de janeiro de 2013

NELMO: ELEGIA À POESIA DOS GESTOS

Nelmo Ricardo Martins Dias,
nosso Nelmo das Ruas e Esquinas, deixou nosso tempo ao léo, libertou-se da lei ... sei que não adianta muito mas, enquanto eu viver, Nelmo, não o esquecerei...


No Centro de Artes armamos quizumba uma vez, Nelmo se fez de estátua enquanto eu tocava. No meio da música soltou num canto da sala meus versos, (versos obcenos que violentavam o português, para espanto do freguês)... sei que não adianta muito Nelmo, mas, enquanto eu viver, Nelmo, não o esquecerei...

Como Niemeyer, elegiado após morto, do PT ao PTB (passando pelo PSDB), Nelmo também é unanimidade. Ele, artista não-institucionalizado, digno, íntegro até o fim,  será demagogiado por desafetos, amado pela gente da cidade,  lembrado com ternura pelos seus ... e nos bares e nas ruas, por mim...


sei que não adianta muito Nelmo, mas, 
enquanto eu viver, ah.. Nelmo, Nelmo,
não o esquecerei...


ARIA DE J.S.BACH
tocada pelo Gui Mallon Ensemble (flauta, oboé, clarinete, violoncelo e violão)
https://soundcloud.com/gui-mallon/aria-bach







segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

THE ARTIST




The Artist é essencialmente uma viagem histórica (pode-se dizer bem rigorosa) de reconstrução da estética da art Deco dos anos 20, la Belle Epoque. O diretor diz sobre a obra: "The Artist was made as a love letter to cinema, and grew out of my (and all of my cast and crew’s) admiration and respect for movies throughout history."

O que talvez não se tenha notado foi este resgate da poética do filme mudo, que era uma OUTRA forma de arte. Logo na primeira cena entendemos a grandeza que foi perdida: uma orquestra completa (!!) toca o score, a trilha sonora, na premier de um filme, levada a cabo em uma sala de concertos (!!). Era assim: 80 minutos de música instrumental composta para o filme, tocada ao vivo de forma sincronizada (os caras ensaiavam com o filme por dias). O The Artist ganhou o oscar de melhor trilha sonora com toda a razão, foram cerca de uma hora e meia de música, quase toda ORIGINAL, escrita para orquestra de forma magistral, cheia de alusões inteligentes à arte de orquestração de um Debussy, de um Bernard Herrmann ou do meu herói Ravel (o filme é francês). Este último compositor viveu aquela época.

A coerência do filme é espantosa, é uma aula! O filme nos ensina didaticamente o que é um filme mudo, não apenas no sentido de um Chaplin - que foi um grande artista, mas era um comediante, por isso sobreviveu a cortina de ridicularização que cercou o filme mudo após o advento do filme falado: atores como o personagem George Valentin, que faziam filmes sérios e profundos na estética antiga, caíram no ridículo. Pessoas iam aos cinemas assistir os velhos filmes mudos para GARGALHAR! Isso é apontado no enredo como uma das maiores dores do protagonista, que tenta o suicídio ao final.

A forma como o enredo foi construído é um capítulo à parte, uma outra lição. Já que não havia o recurso da palavra para explicar e aprofundar complexidades da história, o enredo tinha que ser construído dentro de uma lógica e economia de recursos que não existe hoje em dia. O uso de metáforas poéticas era abundante. Como quando Valentin sai do leilão de todos os seus objetos pessoais e o leiloeiro querendo cumprimentá-lo comete uma gafe e diz: "Parabéns, vendemos tudo que é seu, não sobrou nada do que era teu". Logo depois, o ex-ator atravessa a rua observado por Peppy Miller (a estrela que roubou-lhe a fama) e ele quase é atropelado por um carro, em frente a um cinema onde o cartaz mostrava um filme: Lonely Star. Quando a esposa aos prantos fala com um Valentin deprimido e fechado no seu silêncio: "Porque você não FALA comigo?". Quando ele é parado na saída de um cinema por uma senhora (todos pensam que ela irá cumprimentá-lo mas ela ignora-o e cumprimenta o cachorrinho), ele responde aos elogios: "Se ele apenas pudesse FALAR..." e por aí vai, dezenas de metáforas bem colocadas vão descrevendo o abismo em que o personagem mergulha.

O filme foi tão genial e surpreendente que ganhou Cannes, Brittish Academy (12 nomeações e 8 prêmios) , 6 globos de ouro e 5 oscars da Academia. Entendo que alguns possam encontrar defeitos nele pelo excesso do uso de clichês e apropriações. O filme aparentemente parece ser incorreto politicamente (um filme "branco", racista, que mostra afrodescendentes apenas como primitivos tribais africanos), mas até isso foi colocado dentro de  rigor histórico e artístico. 

Primeiro ator e filme francês a ganhar o oscar, o que mais me agradou é que o The Artist foi o primeiro filme MUDO a ganhar o oscar desde 1927. Enfim, um resgate total! Eu gostei por razões óbvias: este resgate da poética do filme mudo vai de encontro à minha proposta atual, de fazer metafilmes musicais ao vivo.

http://www.youtube.com/watch?v=cDbYv03BeXU