quarta-feira, 15 de maio de 2013

ALGO ANTIGO, DE ROUPA NOVA, VIA PLIM PLIM



 É sempre interessante notar que estamos sujeitos a um bombardeio de mensagens subliminares o tempo todo.


O "Plim, Plim" com a imagem do símbolo da Globo na telinha, por exemplo, nos remete à varinha mágica dos contos de fada; uma maneira sutil e instantânea de despertar dentro de nós, de maneira subliminar, a criança ingênua, olhos esbugalhados, absolutamente crente e submissa ao narrador. Essa submissão consentida ao narrador é parte importante da narração desde tempos imemoriais. A maximização do "faz de conta" é parte importante do show business nos dias de hoje. Temos que fingir que é verdade, senão a mágica do espetáculo não funciona.




Estas mensagens subliminares parecem inocentes, mas são, na verdade, um instrumento psicológico de comando de massas, muito utilizado há tempos por todos, desde políticos a profissionais de marketing e mídia.

"Paletó (R$ 4.640), calça (R$ 1.650),
sapato (R$ 1.330)", etc, (O GLOBO)

O Lobão desafiador que surgiu no jornal O Globo em 04/05/2013, por exemplo, todo vestido de vermelho, parece apenas uma imagem montada, construída com esmero para associá-lo à imagem de algo bem mais perigoso (o demônio), e assim despertar nossa curiosidade mórbida, para vender discos e livros (olha a mensagem subliminar aí).

Nada demais ou de inédito até aqui. Os Rolling Stones já haviam flertado com o diabo meio século atrás, na canção Sympathy for the Devil (1968), uma maneira de diferenciar-se dos Beatles, que seguiam uma filosofia mais comportada, de orientalismos, de "Paz e Amor". Foi a maneira que os Stones encontraram para abrir espaço e público próprios, naqueles tempos de Beatlemania.

A extrema exposição à mídia pela qual passa o músico e escritor Lobão, no momento, poderia parecer apenas mais um detalhe da estratégia de mais um lançamento sensacionalista como tantos outros, mas não é. É algo mais. O discurso desafiador de Lobão também foi um ato cuidadosamente encaixado, conscientemente ou à revelia do próprio Lobão, na tentativa de "inauguração" de uma nova frente ideológica que se forma no Brasil com a ajuda da imprensa há algum tempo, desde as duas últimas reeleições do petismo. O L.A. Times detectou este fenômeno, em matéria de março de 2013 entitulada Brazil´s Dilma Roussef is popular, but not among news media. (A presidenta Dilma é popular, mas não na mídia). Mas qual seria então a ideologia desta frente ideológica? Qual o conteúdo? Qual a estratégia? Nada de novo, really. O objetivo é seduzir os jovens da classe média alta, futuros universitários estatais formadores de opinião, mostrando a eles a contradição óbvia de ser "de esquerda" e pertencer, ao mesmo tempo, a uma classe privilegiada. Este é o grupo que se pretende atingir.

No artigo "Mais Lobão e Menos Chico Buarque", de Rodrigo Constantino (também no O GLOBO), a comparação que se faz com Chico, considerado um porta-voz das esquerdas brasileiras de elite, não é gratuita. Gostariam de fazer do Lobão uma espécie de "anti-Chico", marcando posição e espaço entre esta juventude crítica, exatamente como os Rolling Stones fizeram a meio século com os Beatles - guardadas as devidas proporções e dentro da nossa realidade tupiniquim. Eu, pessoalmente, acho que o Lobão, apesar do indiscutível talento, jamais chegará a estatura ou ao significado político, agora ou nunca, que o Chico alcançou no seu tempo, nos anos 60-70. Se alguma chance ainda tivesse, já está velho demais para ser ícone de uma geração. E hoje, sabemos, é bem mais difícil criar uma mensagem que alcance a quase unanimidade que se alcançava antes. Deve ser chato para o Lobão ver a música de Chico Buarque ser, ainda hoje, preferida pelas "meninas da Zona Sul", sua classe de origem.  Parodiando uma frase famosa de um candidato americano à presidência, eu poderia dizer: Lobão, you are no Chico Buarque!

Mas então o que é isso? O discurso do Lobão, desprovido de profundidade ou substância acadêmica, seria apenas o de mais um lesado da cabeça, o de mais um ex-presidiário condenado por uso de drogas, o de mais um "idiota útil" à "imprensa PIG", etc? Sim e não, escolham seus lados no ringue à vontade. Mas o que eu acho mais interessante aqui não é o discurso do Lobão - que os jovens de esquerda consideram tão simplórios e desinteressantes quanto suas músicas - mas, sim, o fenômeno da hiperexposição da mídia. Por que os holofotes da imprensa se voltaram tão avidamente para ele?
E o que estes "novos pensadores de direita" por detrás dos holofotes querem dizer? Qual é a mensagem? Nada de novo.

DA LEI ÁUREA ÀS COTAS NAS UNIVERSIDADES, UMA RESISTÊNCIA CONSEQUENTE.

Se é para alguém ser indenizado, deveriam ser os próprios ex-escravos
(Rui Barbosa, respondendo aos pedidos de indenização dos ex-proprietários de escravos)

Os movimentos e manobras políticas que presenciamos hoje em dia, seja no Jurídico, na Câmara ou na Mídia, têm uma motivação semelhante aos movimentos que lutaram contra a Abolição da Escravidão no séc. XIX; a luta contra a perda de certos privilégios que se acreditava garantidos de berço. O casamento Gay ameaça o estilo de vida dos religiosos, a "Lei Seca" ameaça o estilo de vida dos cowboys das estradas, a chamada "Lei das Domésticas" ameaça o estilo de vida da classe média, a cota de negros na universidade ameaça os que podiam pagar os cursinhos, a Bolsa Família retirou a mão de obra semi-escrava do campo (inclusive de crianças), etc. Aos resistentes temos que perguntar: Qual é a alternativa ao avanço da civilização? Deixar que crianças continuem a morrer de fome ou sejam exploradas nos campos? Que pessoas morram nas estradas estupidamente? Que a universidade pública continue a ser um clube privado? Que os homossexuais continuassem a ser tratados como não-humanos?

O discurso do Lobão (okay, vamos fazer de conta que aceitamos, como propõe a mídia, que o Lobão seja o portavoz dessa velha-nova ideologia caduca), poderia ser comparado aos que foram proferidos pelos que resistiram à abolição.  Se Lobão estivesse em 1888, estaria do lado dos escravagistas.

Absolutamente nada de novo em desejar uma volta ao passado.



Missa de Ação de Graças pela Abolição, a princesa Isabel e o povo, no dia 17 de maio de 1888







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